Anemia Ferropriva


   A anemia é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “um estado em que a concentração de hemoglobina do sangue é anormalmente baixa em consequência da carência de um ou mais nutrientes essenciais, qualquer que seja a origem dessa carência”. Já a anemia por deficiência de ferro, ou anemia ferropriva, resulta de longo período de balanço negativo entre a quantidade de ferro biologicamente disponível e a necessidade orgânica desse oligoelemento.

   A anemia por deficiência de ferro é, isoladamente, a mais comum das deficiências nutricionais do mundo e ocorre como resultado de perda sanguínea crônica, perdas urinárias, ingestão e/ou absorção deficiente e aumento do volume sanguíneo. Os sinais e os sintomas mais frequentemente observados são inespecíficos, como anorexia, palidez, apatia, irritabilidade, cansaço, fraqueza muscular e dificuldade na realização de atividade física. O diagnóstico do estado nutricional relativo ao ferro é realizado principalmente por meio de exames laboratoriais.

   No mundo, a deficiência de ferro atinge mais de 2 bilhões de pessoas, estimando-se uma prevalência total de 40% da população.
   No Brasil, não há levantamento nacional da prevalência de anemia, somente estudos em diferentes regiões, que mostram alta prevalência da doença, estimando-se que cerca de 4,8 milhões de pré-escolares sejam atingidos pela doença. Estudos apontam elevada prevalência de anemia principalmente em crianças menores de 5 anos (a proporção de anemia em crianças menores de 2 anos situa-se entre 50 a 83,5%), sendo a faixa etária de 6 a 23 meses a de maior risco para o desenvolvimento desta doença. Apesar da inexistência de estudos nacionais abrangentes, dados regionais têm demonstrado elevada prevalência de anemia no Brasil, em todas as idades e níveis socioeconômicos.
Ferro

   O ferro, mineral mais abundante da terra, é um dos micronutrientes mais estudados e melhor descritos na literatura. Ele desempenha importantes funções no metabolismo humano, tais como transporte, armazenamento de oxigênio e inúmeras outras funções.
   A maior quantidade de ferro do organismo encontra-se na forma de hemoglobina (~ 65%), o restante distribui-se na composição de outras proteínas, enzimas e na forma de depósitos, como ferritina e hemossiderina (15 a 30%).

   A manutenção de níveis normais de hemoglobina no sangue requer um suprimento adequado de ferro sendo que a carência do mineral é o resultado do equilíbrio negativo a longo prazo. Inicialmente tem-se a depleção de ferro, diminuindo os estoques de ferro do sistema retículo-endotelial, logo ocorre a deficiência de ferro circulante, a qual é caracterizada pela eritropoiese (processo de produção dos eritrócitos, também denominados hemácias ou glóbulos vermelhos) deficiente com diminuição no aporte de ferro para os órgãos e tecidos, e por último a anemia ferropriva, que é caracterizada pela concentração anormalmente baixa de hemoglobina.
    De acordo com o estudo realizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2002-2003), a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) indica que a participação relativa de alimentos de origem animal (carnes, leite e derivados e ovos) corresponde a cerca de 20% das calorias totais; as carnes, isoladamente, têm a participação de aproximadamente 12% das calorias totais. Frutas, verduras e legumes correspondem a apenas 2,3% das calorias totais. Esses valores quando comparados a dados de estudos anteriores, indicam uma tendência ao aumento da ingestão de carnes, importante fonte de ferro, e diminuição de hortaliças e frutas em geral.
  
   A biodisponibilidade do ferro depende do tipo de alimento consumido e da combinação deste com outros na dieta. Normalmente, só 5 a 15% do ferro consumido é absorvido. O ferro heme, derivado da hemoglobina e da mioglobina e presente nas carnes de gado bovino, peixes, aves, vísceras e embutidos apresenta alta disponibilidade, já o ferro não heme, derivado de cereais, leguminosas, tubérculos, vegetais, frutas, ovos e em pequenas quantidades nas carnes, tem sua biodisponibilidade variável, dependendo da composição de cada refeição. O potencial de absorção do mineral pode aumentar quando o consumo é concomitante com o do ácido ascórbico e/ou das próprias carnes, que exercem um papel triplo: fonte de ferro, fonte de ferro hemínico e ativador da absorção do nutriente.


O quadro abaixo mostra o conteúdo de ferro dos alimentos e sua biodisponibilidade.

Quadro 1. Conteúdo de ferro e sua biodisponibilidade em alimentos.



   A idade, sexo e estado fisiológico determinam a necessidade de ferro. A necessidade de ferro antes dos 6 meses de idade, com a dieta exclusivamente láctea, é principalmente atendida pelos estoques de ferro aos nascer. Depois disto, a alimentação complementar passa a principal fonte do nutriente.
   A deficiência de ferro acarreta consequências deletérias para a totalidade de indivíduos que a apresentam. É mais freqüente entre indivíduos em crescimento e mulheres em idade reprodutiva e gestantes.

Anemia Ferropriva

   A anemia ferropriva pode representar um considerável risco à saúde, estando associada a prejuízos na capacidade produtiva dos indivíduos; problemas no desenvolvimento motor, cognitivo, crescimento físico de lactentes e crianças, além da redução na capacidade imunológica, acarretando maior susceptibilidade às infecções.
   Nas crianças, a anemia resulta em importantes desordens físicas e mentais, esta deficiência é acompanhada da incapacidade de fixar atenção, diminuindo a acuidade mental, sonolência e irritabilidade, que podem trazer como consequências o baixo aproveitamento escolar.


→ Diagnóstico Laboratorial

   O estado final da carência de ferro está associado a um significativo decréscimo na concentração de hemoglobina. Portanto, a dosagem da concentração de hemoglobina é o método indispensável para verificar a prevalência de anemia em uma população.
   Segundo a Organização Mundial da Saúde, define-se anemia, para crianças menores de 5 anos e gestantes, como níveis de hemoglobina inferiores a 11g/dL. Para as crianças de 5 a 11 anos, o diagnóstico de anemia é feito quando a hemoglobina é menor que 11,5g/dL; para adolescentes de 12 a 14 anos e para mulheres não-grávidas, abaixo de 12g/dL; e, finalmente, para adultos do sexo masculino acima de 15 anos, abaixo de 13g/dL.

→ Necessidades e Recomendações

   O trato intestinal tem um papel muito importante no mecanismo de reciclagem do ferro corporal, pois a absorção pode ser modificada conforme as necessidades do organismo, ou seja, quando as reservas são baixas, ocorre aumento significativo da absorção e, contrariamente, quando altas, sua inibição.
   Levando-se em consideração esses aspectos, pode-se entender que as necessidades diárias de ferro são pequenas e variam conforme a fase da vida. Dessa forma, considerando-se absorção de 10%, a RDA (Recommended Dietary Allowances) preconiza ingestão diária de 10mg de ferro elementar para crianças de 6 meses a 3 anos; 12 e 15mg, para adolescentes do sexo masculino e feminino, respectivamente; 10mg para adultos masculinos e femininos após cessarem as perdas menstruais; e 15mg para o sexo feminino em idade reprodutiva e nutrizes. Para gestantes as necessidades diárias são de 30mg.

→ Prevenção
   
   A prevenção da anemia ferropriva e da deficiência de ferro deve ser planejada priorizando-se a educação nutricional e condições ambientais satisfatórias e envolvendo-se: o incentivo ao aleitamento materno exclusivo até o sexto mês; a não utilização do leite de vaca no primeiro ano de vida; a suplementação medicamentosa profilática; a fortificação de alimentos de consumo massivo; o controle de infecções; acesso a água e esgoto adequados; e o estímulo ao consumo de alimentos que contenham ferro de alta biodisponibilidade na fase de introdução da alimentação complementar e em fases de maior vulnerabilidade a essa deficiência, como a adolescência.
    As atuais políticas adotadas pelo Programa Nacional de Combate à Anemia Carencial Ferropriva do Ministério da Saúde, no intuito de reduzir a prevalência de anemia ferropriva, consistem na suplementação medicamentosa profilática (lactentes) e na fortificação de alimentos. A eficácia do esquema semanal (25 mg/semana até 18 meses) ainda não foi devidamente comprovada. Ressalta-se que, embora a suplementação medicamentosa seja eficaz na prevenção e controle da anemia, a baixa adesão ao método por fraco vínculo mãe-filho, baixo grau de instrução e inadequada percepção da gravidade da doença leva à interrupção da administração do medicamento e ao insucesso do programa. Esse fato explica por que os índices de anemia continuam em ascensão, apesar de sucessivos programas de combate à doença.

→ Fortificação dos alimentos

   A fortificação de alimento vigente no Brasil, desde junho de 2004, consiste em uso obrigatório de compostos de ferro e ácido fólico nas farinhas de milho e trigo (100 g do produto contêm 4,2 mg de ferro e 150 μg de ácido fólico). Outros alimentos industrializados fortificados com ferro são: biscoitos, cereais, temperos como molho de soja, leite ou derivados. Estes alimentos foram escolhidos para fortificação pelo baixo custo, por pertencerem à dieta habitual e por serem de fácil acesso para a população.
   Estudos comprovam a eficácia da utilização de fórmulas infantis e leites fortificados, com sulfato ferroso e ferro quelato, na profilaxia da anemia em crianças menores de dois anos, na impossibilidade de manutenção do aleitamento materno.

Fonte: benvenutri
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